sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Porque os quadrinhos não são para crianças.

Quando as revistas em quadrinhos (principalmente as de super-heróis) começaram a ser escritas lá na década de 30 e 40, o principal público-alvo eram as crianças. Para que esse público alvo fosse atingido, os personagens eram desenhados com roupas coloridas protagonizando histórias bobinhas contra vilões bem ridículos. Até hoje no Brasil, a maior parte dos quadrinhos que são escritos são para crianças, e, talvez, por isso, as pessoas tenham a ideia errada sobre o que significa realmente ler HQs.

Abaixo, sete grandes e ótimos motivos de porque os quadrinhos não são para crianças (ou, pelo menos, não somente para elas!):

1. Os super heróis também são seres humanos...

Bom, a maioria deles é e passam pelos mesmos problemas que nós passamos, amplificados pelos poderes que possuem, é claro! Eles sentem, sofrem, possuem desejos e tem responsabilidades, assim como nós. Só que a história deles é muito mais interessante porque afinal de contas, o mais bacana é ver o que um ser dotado de habilidades tão especiais faz quando passa por essas fases da vida. São questões como: até onde um ser superpoderoso deve ir? Qual o limite para usar seus poderes, mesmo que seja para o bem? Os fins justificam os meios? Vale à pena matar vilões, para no fim se igualar a eles? Até onde ir sem arriscar a vida de quem você ama? Isso me faz lembrar da frase do tio Ben: "Com grandes poderes, vem grandes responsabilidades".

Nos quadrinhos, as personagens geralmente passam por uma situação bem traumática antes de virarem heróis, e escolhem usar os poderes (ou habilidades) que desenvolvem para ajudar pessoas que, às vezes, nem conhecem, se sacrificando, e, de vez em quando, até morrendo por elas, simplesmente porque é a coisa certa a fazer. Quantas pessoas você conhece que se sacrificariam por um desconhecido. Você mesmo faria isso?


O DIA EM QUE O SUPERMAN MORREU NOS QUADRINHOS,
DANDO A VIDA PARA SALVAR METRÓPOLIS... OU A MAIOR PARTE DELA.

2. Os quadrinhos também abordam questões sociais que estão e sempre estarão em voga.

O feminismo versus o machismo por exemplo. Muitos heróis tem versões femininas e essa coisa de donzela indefesa está mudando bastante. Hoje em dia, as mulheres são desafiadoras, fortes e independentes... E não são, necessariamente e obrigatoriamente, heroínas superpoderosas! Personagens como a Lois Lane (namorada do Superman) e Gwen Stacy (namorada do Homem Aranha), para citar as mais conhecidas. Personagens como a Lois Lane (namorada do Superman) e Mary Jane Watson (namorada do Homem Aranha), para citar as mais conhecidas.


"E A VERDADE É... HÁ ALGUMA COISA TERRIVELMENTE ERRADA COM ESSE PAÍS, NÃO HÁ?"

Outros temas sociais abordados: o preconceito contra quem é diferente nos quadrinhos dos X-Men; o abuso de poder do governo na série de quadrinhos V de Vingança; a eterna luta entre o que é certo e o que é preciso, na história de Watchmen; e isso faz um link com o próximo motivo...

3. Quadrinhos também ganham prêmios literários respeitados.

Os melhores quadrinhos que existem não precisam ser necessariamente de super-heróis com poderes fantásticos, mas não deixam de ser quadrinhos. O que eu quero dizer é que: O que faz uma história boa são o roteiro e os conflitos retratados ali e não somente o estilo de leitura em que são apresentados.

Vale citar dois exemplos de quadrinhos que já ganharam prêmios importantes de literatura: o primeiro é uma história chamada Maus. O autor dessa história é Art Spiegelman. Ele fez uma entrevista com seu pai, sobrevivente de Auschwitz, e, então, quadrinizou essa história. O mais interessante é o modo como ele mostra as personagens: os judeus são ratos, os nazistas são gatos e os americanos são cães. Olha só que interessante! Para quem leu, é um dos quadrinhos mais impactantes de todos os tempos, e ganhou o Pulitzer em 92! Para quem não sabe, esse prêmio é como se fosse o Oscar da imprensa, e premia trabalhos nas áreas de jornalismo, literatura e música.


O segundo exemplo é o já citado Watchmen, que esteve na Lista da Time de 2005 dos 100 melhores livros da língua inglesa! Olha só: De todos os livros já lançados na língua inglesa, esse quadrinho é um dos 100 melhores!!! Tudo bem, esse é de super-herói... mas a história não foca nos poderes das personagens, e sim no caráter, crenças e conflitos internos de cada um deles e as consequências de tudo isso misturado. O final da história é muito chocante, e se você não viu ou não leu, é fortemente recomendado. Mas ó, não é pros fracos!

4. Quadrinhos não são tão diferentes de livros.

Eles contam histórias, têm roteiros, narrativas, desenvolvem as personagens, de vez em quando, uma temática mais profunda, uma questão social aqui, uma polêmica ali... A única diferença é que são ilustrados! É claro que as duas coisas não são completamente iguais: é como comparar cinema com teatro, por exemplo... São dois jeitos diferentes de absorver a história. Porém, eu não vejo porque um tem que ter menos valor do que o outro.

Escritores de histórias infantis e adolescentes são endeusados, como a J. K. Rowling, autora de Harry Potter, por exemplo. Outros autores de histórias só para crianças mesmo, quando dizem o que fazem, são vistos como pessoas maravilhosamente sensíveis que devotam suas vidas a transformarem criancinhas em leitores! Mas pergunte quem é Frank Miller, Neil Gaiman, Will Eisner... Ninguém sabe! Algumas pessoas já ouviram falar, chutam que são pessoas importantes que fazem gibis, talvez , lembrem-se de suas obras... Mas não são amplamente famosos! As pessoas só conhecem Stan Lee porque ele está em todos os filmes da Marvel!!! O que nos leva ao próximo item da lista...


"LIVROS DA MAGIA", HISTÓRIA CRIADA EM 1990 POR NEIL GAIMAN E
PUBLICADA COM O SELO VERTIGO. SE PARECE COM QUEM?!?!

5. Os desenhistas são incrivelmente talentosos (bem, os melhores são!)!

São obras de arte mesmo, do tipo que dá vontade de mandar ampliar e fazer um pôster para colocar bem na parede de destaque do seu quarto. Ilustrações detalhadíssimas, perfeitas, que fazem a gente querer entrar na história!

Um que faz muito sucesso é Jim Lee. Ele é sul-coreano e ganhou um prêmio pelo seu trabalho nos anos 90. Ilustrou uma série do Batman chamada "Silêncio". De longe, é um dos melhores arcos de histórias, só porque foi ele que desenhou (se você não entende "quadrinhês", arco é uma série de revistas que fecha uma história. Por exemplo, se uma história começa na edição 1 e vai até a 7, isso é um arco). Além de Batman, ele também desenhou Superman, mas ficou famoso mesmo um pouco antes, desenhando X-Men.



A PÁGINA MAIS PREFERIDA DE TODAS DE MUITOS FÃS QUE O JIM LEE JÁ DESENHOU!

6. Alguns arcos de quadrinhos são só para gente adulta.

Sério, têm muitos quadrinhos por aí que nem gente adulta consegue digerir. São cenas muito fortes, como estupros, espancamentos, violência doméstica, mutilações, sexo...

Por isso, existem algumas editoras que trabalham apenas com quadrinhos para adultos. A Marvel e a DC que são as mais famosas, por exemplo, tem divisões que fazem apenas esse tipo de histórias: a Marvel Max, Marvel Ultimate e Vertigo. "Hellblazer", que narra as histórias do John Constantine, "Sandman" e o próprio "V de Vingança" são algumas das HQs mais famosas que levam o selo Vertigo.

Além de cenas fortes e chocantes, também deve se levar em conta que os desenhistas estão "sensualizando" mais os desenhos ultimamente. As mulheres estão ganhando anatomias impossivelmente torneadas, além de uniformes incrivelmente reveladores... E os homens parecem halterofilistas! Parece que, às vezes, eles exageram, mas, talvez, aí é que esteja a beleza... As pessoas já tem poderes malucos, porque não exagerar no físico e nos trajes das personagens também?


 "JUIZ DREDD", UM EXEMPLO DE QUADRINHO ADULTO.
SE VOCÊ DISCORDA, PONHA SEU FILHO DE 6 ANOS PARA LER!!!

7. O mercado dos quadrinhos movimenta bilhões de dólares por ano (aproximado).

E, aqui, falamos de todos os produtos que tiveram origem em personagens e histórias de quadrinhos: filmes, séries, arte, camisetas, fantasias, action figures... que são miniaturas de personagens, às vezes representados em cenas ou com figurino de algum arco de história (por favor, nunca diga que são bonecos! Você se arrisca a ter um fã do seu lado ouvindo o absurdo que você acabou de dizer!). Deve estar faltando algo, inevitavelmente, pois esse mercado baseado em quadrinhos não para de crescer! E a grande maioria esmagadora dos consumidores desse tipo de produto é adulta.

Muitas pessoas, inclusive, viram fãs de suas personagens preferidas depois de vê-las em filmes e séries de TV. Hoje em dia, o cinema vem tomando um pouco o espaço dos quadrinhos. Filmes são coisas mastigadas e tem muita gente preguiçosa por aí que nunca teria saco (ou dinheiro) de ir atrás das revistas de sua personagem favorita. No ano passado (2016), a quantidade de leitores de quadrinhos diminuiu bastante em relação a alguns anos anteriores. E advinha qual o ano em que teremos mais filmes de super heróis? Já tivemos "Deadpool", "Batman vs Superman: A Origem da Justiça", "Capitão América 30: Guerra Civil", "X-Men: Apocalypse", "Esquadrão Suicida" e "Doutor Estranho". É, minha gente! Vocês já devem ter preparado o bolso! 
Ah, e por falar em bolso, eis uma curiosidade: A revista mais cara de super-herói já vendida custou mais de 3 MILHÕES DE DÓLARES!!! Foi a revista em que o Superman faz sua primeira aparição, a Action Comics #1. É, queridinho (a), se isso não é coisa para gente grande, não sei o que é!


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