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A conquista do Nobel de literatura pelo cantor e compositor Bob Dylan levantou mais uma vez a questão: música é ou não é literatura? É possível até mesmo pensar que um dos motivos que levaram à escolha, além é claro da genialidade de Dylan, foi fazer essa provocação. A Academia começa a perceber que num mundo de convergência midiática torna-se impossível identificar um gênero in natura, todos os gêneros se tornam híbridos.
Mas a ligação entre poesia e música não é nova. Todas aquelas consideradas as primeiras grandes obras da literatura eram recitadas oralmente antes de se imprimirem na palavra escrita. Nesse tempo, “cantar-se-ia em lugar de falar”, e era comum encontrar o povo recitando a Odisseia de Homero nas praças de Atenas.
O divórcio entre letra e som é uma invenção moderna, que separa história e natureza. Quem observa isso é Jean Jacques-Rousseau no seu clássico Ensaio sobre a origem das línguas. O filósofo vê nesse movimento uma perda, onde as palavras passam a exprimir apenas ideias, e não mais sentimentos.
Por esse motivo tenho o hábito, sempre que possível, de ler em voz alta. Ler quieto é perder metade da história. Um bom escritor deve saber ir além da gramática e da semântica e pensar a acústica. Também não é por acaso que Friedrich Nietzsche foi um grande amante da música clássica, como na sua relação controversa com Wagner, chegando a afirmar que “sem música a vida seria um erro”. Apesar de ter falhado como compositor, seu conhecimento musical se expressou fundamentalmente em seus escritos.
Parabéns ao Dylan, que aprendamos com ele a escrever cantando e a cantar escrevendo.
A escolha do compositor americano Bob Dylan para o Nobel de Literatura 2016 reacende uma velha questão: letra de música pode ser considerada literatura? Embora muitas letras carreguem aquilo que parece o principal para merecer a definição de poesia, a poiesis, palavra do grego antigo para criação, que Platão relacionou às artes em A República, há quem conteste a classificação. Os argumentos vão da simplicidade de algumas letras à desobediência à métrica e à aversão a rimas. Como para rebater esses críticos, Sara Danuis, a secretária permanente da Academia Sueca, comparou Dylan a Homero e Safo, dois gigantes da Antiguidade Clássica, para justificar a escolha. E você, o que acha?
A escolha do compositor americano Bob Dylan para o Nobel de Literatura 2016 reacende uma velha questão: letra de música pode ser considerada literatura? Embora muitas letras carreguem aquilo que parece o principal para merecer a definição de poesia, a poiesis, palavra do grego antigo para criação, que Platão relacionou às artes em A República, há quem conteste a classificação. Os argumentos vão da simplicidade de algumas letras à desobediência à métrica e à aversão a rimas. Como para rebater esses críticos, Sara Danuis, a secretária permanente da Academia Sueca, comparou Dylan a Homero e Safo, dois gigantes da Antiguidade Clássica, para justificar a escolha. E você, o que acha?
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