Três crônicas pós-aniversário.

Reflexões pós-aniversário, parte 1 de 2.

Aqui estava eu, desiludido e frustrado com mais um ano de vida. Completei 33 anos no último dia 29, e, antes mesmo do dia certo, já estava desolado e inconsolado com a ausência do clima, da energia e do espírito. Isso porque achava que já não era mais como antes.

Eu achava que era tudo só de fachada, chegando até ao ponto de não aceitar a ideia de quase ninguém se lembrar de meu aniversário se não por um lembrete em uma rede social ou mensageiro instantâneo.

Isso sem esquecer aquelas pessoas que me davam os parabéns em um ano, e, no seguinte, já não eram mais nossos amigos. Para mim, são pessoas mais falsas do que uma nota de R$3,00 e sei bem de quem se tratam todas essas figurinhas.

Parecia-me também que, se ainda existia o costume de se visitar, telefonar e escrever para o outro pelo aniversário, era algo bem pouco e raro. Eu então me questionei se os parabéns por se fazer anos morreram junto com os bons costumes.

Reflexões pós-aniversário, parte 2 de 2.

Inclusive e principalmente, postei sobre essa questão toda em público para todos lerem e recebi os mais diversos estímulos e incentivos. Depois disso, duas pessoas que, potencialmente, fizeram-me ver a coisa toda por outro ângulo foram, justamente, meu pai e meu vizinho. Cada vez mais, vejo que a sabedoria de alguém mais velho possui bastante encorajamento e influência.

Devo dizer que, de fato, já tinha perdido a esperança, a fé e a harmonia em aniversários. Mas, neste ano, recebi, nada mais, nada menos, do que 241 mensagens de parabéns em público. Até que, no fim das contas, fazer aniversário ainda possui seus méritos e valores.

A propósito: fico aqui, pensando, como ou por que alguém de minha natureza permanece vivo até hoje. Não que eu ache que precise morrer tão cedo; nem que esteja, simplesmente, incomodado e insatisfeito com a vida, só que sim porque já cometi tantos erros na vida que não me perdoo nem por metade deles.

Palavras são como ventos: vêm e voltam.

Sinceramente, não me acho alguém tão fora do comum como muitos de meus parentes e amigos me consideram e estimam. Se me destaco e me sobressaio, ou é porque tenho muita determinação, força de vontade e resistência ou é porque ainda existem boas pessoas me dando apoio e solidariedade diante das barreiras.

No entanto, quando me dei conta da absurda quantidade de pessoas me dizendo que devo ser internado, preso e morto (queria saber de onde tiraram que sou louco, psicopata e retardado), também me dei conta da enorme quantidade de pessoas que me reconhecem como sendo um bom amigo, um bom cidadão e um bom ser humano.

Agora, se sou um bom artista (desenhista, escritor e roteirista), depende bastante do ponto de vista de cada um. Posso até não ser alguém tão profissional quanto os grandes nomes da indústria, mas o que faço vem de muito esforço e honestidade. Meu trabalho possui características e propriedades ricas e únicas, sendo esse meu melhor pagamento.

E, se existem duas coisas que aprendi em décadas de experiência foram, com certeza, que dinheiro não constrói caráter e educação e que cada um (a) deve ser a si mesmo (a). Não detenho o conhecimento inteiro da humanidade, nem o talento dos maiores desenhistas do mundo, só que aprendi a não deixar os amigos na mão (a muito custo por sinal).

A criança interior e o adulto exterior.

Tem gente que julga sem conhecer, entender e saber e isso é um dos maiores mistérios da humanidade e sociedade. A altíssima quantidade de pessoas que dizem que não é sério que faço desenhos parecidos com os feitos por uma criança (e para ser reconhecido ainda por cima) é, realmente, impressionante e surpreendente.

Essas pessoas não pensam e não sentem que tudo na vida tem um ou mais porquês: garanto que muita gente não sabe que não tenho culpa de ter começado a desenhar com três anos, nem de ter a síndrome de Asperger, responsável em aflorar e desenvolver diferenças em seu portador.

Meus desenhos podem até ter características e propriedades bastante incomuns, ou, até mesmo, bem raras, só que isso não significa que haja algo de errado com eles ou comigo próprio.

Ainda existe gente que sabe quem sou pessoalmente e espalha em público que recebo ajuda para ter minha arte divulgada e impulsionada pela síndrome, não é porque elas acham que não tenho talento que todos devam achar igual. Ninguém é idêntico a outrem e assunto encerrado.