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quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

As diferenças entre a comédia e humor, a sátira e paródia, o conto, novela e romance e a poesia, poema e soneto.

Comédia e Humor.

O comediante é o sujeito da brincadeira, da palhaçada, da piada em todas as suas formas – o objetivo é fazer a alegria.

O humorista, predicativo mais formal, é o sujeito ligado aos roteiros, à arte, o que escreve; em tese, mais "fino", como o eterno Chico Anysio.

Paródia e sátira.


Embora se tenha banalizado a palavra paródia, sendo usada frequentemente, na grande maioria das vezes, com o sentido de «pândega, divertimento, gracejo, troça» ou de «imitação ridícula ou cínica de qualquer coisa» (Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, 2010), a realidade é que tal termo tem a sua origem no domínio literário. Remetendo para a etimologia, verifica-se que paródia deriva «do grego parōdès [de para, “semelhante” + odès, “canto”], “um canto, uma poesia semelhante à outra, com carácter humorístico” (Grande Dicionário Etimológico-Prosódico da Língua Portuguesa, VI, de Silveira Bueno, 1966), o que nos parece representar o conceito que se tornou comum designar por sátira.
No entanto, e apesar da vulgarização da palavra, tanto paródia como sátira são, de fato, termos literários, que têm em comum a criação do cômico, mas designam realidades diferentes. Carlos Ceia, em E-Dicionário de Termos Literários, apresenta as características da paródia do seguinte modo:
«Em definição simples, a paródia, enquanto termo literário, refere-se ao processo de imitação textual com intenção de produzir um efeito cômico. A forma como se processa essa imitação, a motivação para o ato imitativo e as consequências esperadas para esse ato determinam a natureza literária da paródia. Por exemplo, a paródia é a forma privilegiada do exercício poético-ficcional da auto-reflexividade [presente em vários romances, como os] de Italo Calvino, John Fowles, David Lodge, José Saramago, Mário de Carvalho ou Alexandre Pinheiro Torres, de Camilo Castelo Branco […] e também em alguns periódicos. Não sendo um recurso exclusivo de uma época, está suficientemente documentada no espaço que se convencionou chamar literatura pós-moderna para nos permitir distinguir a paródia também como paradigma desta época. A condição de auto-reflexividade é apenas uma forma de realização da paródia e não a sua definição final […].»

Ceia coloca-nos, também, perante a ambiguidade que se tem gerado a propósito de paródia e de sátira, o que o leva a dizer que «é frequente a confusão, quase natural, entre o conceito de paródia e outros que vivem nas suas proximidades, sobretudo: a sátira, o pastiche, a paráfrase, a alusão, a citação e o plágio», razão pela qual enuncia as diferenças e os aspectos em comum, de que se destacam os seguintes:
— «A paródia é a deformação de um texto preexistente», [ao passo que] «a sátira é a censura de um texto preexistente».
— «A paródia deforma, censura, imita (criativamente), desenvolve, referencia e não transcreve um texto preexistente» [enquanto] «a sátira censura e referencia, mas não imita, não deforma e não desenvolve um texto preexistente».
— Tanto a paródia como a sátira «são ridicularizações de textos preexistentes».
— A paródia e a sátira «usam a ironia como estratégia retórica».
— «A  paródia e a sátira não conservam a ideologia do texto-objeto.»
— «A paródia e a sátira suportam o exercício de auto-reflexividade.»
— «A paródia e a sátira implicam sempre uma atitude de protesto para com os objetos parodísticos e satíricos e será desta atitude que nascerá a condição pós-moderna que arrisco para uma renovada aplicação da paródia.»

Por sua vez,  da consulta realizada a Corpus do Português, de Mark Davies e Michael Ferreira, verificou-se o emprego de quatro preposições, em 166 ocorrências, para se referir ao objeto da sátira: adesobre e contra. Exemplos:
Sátira a: «Sátira aos valores tradicionais», «sátira à corrupção», «sátira ao governo», «sátira às tradições»
Sátira de: «Sátira de costumes», «sátira da retórica e da filosofia», «sátira do cotidiano»
Sátira sobre: «Sátira sobre o mundo», «sátira sobre as intrigas», «sátira obre a sociedade».
Sátira contra: «Sátira contra os portugueses», «sátira contra o duque».

Conto, novela e romance.

Socorrendo-nos do 
Dicionário Breve de Termos Literários, de Olegário Paz e António Moniz (Editorial Presença, Lisboa): 

Conto: «Do lat. “computu-”, cálculo, conto. Da área da aritmética o vocábulo passou à literatura para designar o relato breve, oral ou escrito, de uma história de ficção, na qual participa reduzido número de personagens, numa concentração espácio-temporal. Pela sua brevidade e concisão, bem como pela sobriedade de recursos que utiliza, o conto é a narrativa mais eficaz de comunicação, detectando-se facilmente a intenção nuclear do seu autor. (…)». 
Novela: «Do it. “novella”, do lat. “nova”, novidade. Termo que designa, na generalidade, um relato ficcional, de dimensão média, entre o conto e o romance. No entanto, também se considera uma novela de curta dimensão (“Novelas Exemplares” de Cervantes) e, no extremo oposto, confunde-se o romance com a novela (W. Scott, Balzac, etc). Além da dimensão, outras características são específicas da novela: uma intriga menos complexa do que o romance; uma estratégia narrativa e discursiva mais direta, com poucos ou nenhuns episódios dispersivos e autônomos (encaixe); maior vivacidade rítmica e sintáctica (mais elipses, menos cenas); menos estudo psicológico das personagens, intenção mais explícita do autor. (…) A classificação de W. Kayser da novela/romance em três categorias (ação, personagem e espaço) permite-nos distinguir vários tipos de novela/romances: de aventuras, de viagem, policial, de espionagem… (ação); autobiográfica, picaresca, psicológica, sentimental… (personagem); pastoril, rural, urbana, social, de costumes… Outras classificações poderão se adotar a partir de um critério temático (amor, condição feminina, tese filosófico-cultural, etc.) ou de confluência genológica (lírica, histórica, etc.)». 
Romance: «Do lat. “romanice”, à maneira de Roma, pelo fr. “roman” e ingl. “romance”. Termo que designa tanto a forma poética da tradição popular, que canta feitos épicos, em medida velha (versos heptassilábicos), geralmente, em rima assonante, como forma mais extensa do relato ficcional. Geralmente, distingue-se da novela pela maior complexidade e variedade da técnica narrativa, pela maior profundidade do estudo psicológico das personagens, pela maior lentidão do ritmo narrativo (cenas, episódios), pelo encaixe de episódios autônomos e dispersivos, pela reflexão filosófico-cultural imprimida pelo narrador, como instância privilegiada do autor.»
Poesia, poema e soneto.
A poesia: Certa vez o escritor Oswald de Andrade disse a seguinte frase: "Aprendi com meu filho de 10 anos que poesia é o descobrimento das coisas que nunca vira antes". A poesia pode estar em tudo: em uma situação cotidiana, em uma paisagem, em uma fotografia, nas artes plásticas e em um poema. Isso significa que a poesia não é exclusividade da literatura, tampouco do poema. A poesia está associada a uma atitude criativa, e não a um gênero literário. É uma definição mais ampla, que pode estar presente em diversas manifestações artísticas. Responder à pergunta “O que é poesia?” nem sempre é tarefa fácil. Um dos mais experientes poetas brasileiros foi Manuel Bandeira.
O poema: Elemento pertencente ao gênero lírico, o poema é um gênero textual que apresenta características que permitem identificá-lo entre os demais gêneros: é um texto composto em versos e estrofes, em uma oposição aos textos compostos em prosa (textos escritos em parágrafos, ou seja, em linhas longas). Um bom poema geralmente está carregado de poesia, mas há também poemas que recusam qualquer lirismo. São recursos muito empregados no poema a musicalidade, a repetição e a linguagem metafórica, essa última responsável por conferir ao texto maior subjetividade. Um bom exemplo de poema brasileiro é Memória, de Carlos Drummond de Andrade.
O soneto: Considerada a mais longeva forma fixa de poema, o soneto tem origem na Itália, documentado pela primeira vez na obra do poeta Giacomo da Lentini, na primeira metade do século III. O soneto segue um molde literário rígido: é composto por quatro estrofes, sendo as duas primeiras quartetos (estrofes formadas por quatro versos) e as duas últimas tercetos (estrofes formadas por três versos). É importante observar também que todos os versos são decassílabos, isto é, todos possuem dez sílabas poéticas. No Brasil, Olavo Bilac, principal nome do parnasianismo, e Vinícius de Moraes, um dos principais representantes da poesia modernista da segunda fase, escreveram dois dos mais famosos sonetos de nossa literatura: Ouvir Estrelas e Soneto da Felicidade, respectivamente.

Referências utilizadas: 
http://exame.abril.com.br/carreira/comediante-ou-humorista-qual-a-diferenca/, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/parodia-vs-satira/30088, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/conto-novela-e-romance/11349 e http://portugues.uol.com.br/literatura/diferencas-entre-poesia-poema-soneto.html.

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